Je suis un autre (Rimbaud). Moi, pour moi, cest trop peu (Maiakowski). Sa découverte, c'est que l'homme nést pas tout à fait dans l'homme (Freud-Lacan). Le regard n´est plus seulement infini: object partiel, il n'est transformé en object perdu (S. Sarduy). A moi. L'Histoire d'une de mes folies (Rimbaud).
A não-obra (a morte) é a definição da vida. Monumento comemorativo ao que me fundamenta e me falta. Imprevisível e sem-cura mas implícito le manque. Entre o que eu sou (plenitude, contentamento, alegria e o contrário) e o objecto do meu desejo (erotismo, o seio materno, afinal plenitude, objecto (*) a utopia, a revolução) alguma coisa se interpõe. Por um lado tudo vai para ti. é o princípio do prazer; por outro, há a compulsão do repetitivo, e re-começar o trabalho, a metronímia... o instinto de morte.
amo-te e desejo-te e cada desejo exige eternidade. Como diria Zaratustra: eternidade profunda. Mas XXXXX que sou, evanescente e liquid-ável. Só nos resta o rigor das nossas margens. A descobrir. Para análise implacável das diferenças, invenção da palavra no assassínio da mais estrita linguagem. Repito: amo-te desvairadamente aMORte.
Resumindo:
A história do meu pai (dulcíssimo mas um pouco distante). O leite conjugal, os seios da minha mãe: “quando vejo cor-de-rosa penso que se referem a mim”.
A história da lei Resistência. Não o fazer era superior às minhas forças. C'etait le temps des assassins.
O cinema. A descoberta do Outro. O Dom Roberto e a Imagem. A cultura, a França (a “Grande Chaumière”, os estúdios). O teatro radiofónico (foi quando conheci o Redol, um homem bom). O outro teatro (foi quando conheci o José Rodrigues, o Peixinho, a Rosa). E o Raúl Brandão e o Porto?
O meu amigo Tunhas morria “Je veux vivre. mais, pas aujourd'hui”.
Algés e o Primeiro Acto. Fluxos e para além o teatro. Tinha conhecido Almada Negreiros. Comecei.
A Itália, a Rússia, a Europa, o Mundo.
A mudança, o Grupo de Música Contemporânea: eu fui da banda.
Crítica de arte (foi quando conheci o Lopes Graça), a Seara Nova, o Neo-Realismo e depois o 25 de Abril. A crítica é uma opção ou uma necessidade? Em Portugal é uma necessidade (Garrett).
A paixão da escultura. A Arte popular: Moi! moi qui me suis dit mage ou ange, dispensé de tout morale, je suis rendu ao soi, avec un devoir à chercher, et la réalité ruguese à atreindre! Paysan?
A paixão da pintura, foi quando eu comecei a fabricar tintas. Eu acabava um curso universitário. De ciências. Foi uma grande re-volta. Que depois se transformou em câmara escura.
Enfim, vi a Ave do Paraíso
Que alternativa?
Comecei a experiência da apropriação de textos literários-tipográficos em 1977 (“Alternativa Zero”). Exposição de ORLANDO (Virgínia Woolf). Absoluta des-autorização (anonimato) e o carácter tautológico (tradução, tipo-grafia). Jogava-se a coincidência de sentido como investigação estética. Coincidência com a própria exposição: o tempo, total evanescência e uma hecatombe de palavras Zero.
Esta instalação agora é sobretudo o quadrum (moldura, plinto, galeria, museu) de dois textos, Laing e Santo Agostinho. Sem tradução, os textos devem ser vistos de soslaio.
O texto das Confessions foi manipulado: changement de genre (chave evidente?): masculino/feminino, Deus/revolução.
Ex-texto, ex-posição. Sentido de soslaio, são como um espectáculo ou uma palavra feita. Sentido oculto: falta qualquer coisa nesta exposição sobre o-que-falta. Ce n'est pas encore ça. O seio materno, as mandalas. Os nomes, as mantras. E há uma exposição dentro da exposição. Mas, ce n'est pas encore ça. Como toda a vida, e o processo estético, a exposição é um trabalho de morte. Tudo acontece ex. Mas ― como dizer? ― com um lado luminoso, começar, o sol ainda, algo de imprevisivelmente diferente de absolutamente outro que está no entanto à-vista, à-altura, à-face à minha, à tua.
Também falta alguma coisa a este papel, e currículo e esses detalhes. Não porque sejamos contra a identificação. Mas porque nos pareceu que esse género de coisas, aqui, gritariam ao pleonasmo. Sobretudo porque...
... quando me perguntam qual é a minha profissão, o género artístico que exerço (“se queres ser o primeiro tem cuidado em não ser o último”) penso muito em Maquiavel, Sade, Rimbaud, Lautréamont, Nietzsche, Artaud... alguns outros autores e só me apetece responder com o maior cinismo e sinceridade:
eu gostava de ser um santo. Não me convém nenhuma outra profissão. E até não me importava de morrer pelo sentido. Mas era preciso que fossem a sério a cruz, a roda do martírio, o próprio calvário, a causa, o movimento. E isso falta sabê-lo ... o saber exige um não saber, a obra uma não-obra. Esta exposição é uma ex-posição. Como se fosse possível dizer: o melhor era não ter nascido. L'imprévisible miroir.