A Palavra e a Letra [cartaz-desdobrável], Bienal de Veneza
1980
Comissário. Entendemos esta designação como o sinal de uma responsabilidade coordenadora – que aceitamos. Mas também como um trabalho de conceção, e sobretudo algo que confirma toda uma vida. De companheiro. De compreensão. De amor. "Eu para mim sou demasiado pouco." As criações dos outros são também a minha criação. Em arte até o dissidio é alheio à criatividade.
A redescoberta de uma linguagem, a do futuro (e sua escrita) é uma tarefa premente em Portugal. Tem-se falado e tem-se gritado muito mas a dispersão do sentido é ainda avassaladora. A redução ao zero, e não só da escrita mas também da própria fala – é necessária. Uma nova cora, um lugar antes do espaço. Reunir depois os fragmentos dispersos e re-começar novo discurso. Silêncio, diálogo.
A letra, o sinal. E a sua proposta secreta, o futuro. Dialética das palavras em liberdade e do trabalho da significação. Estrutura aberta. E em processo: é preciso re-inventar as palavras, e reconquistar uma pátria universal.
Não estamos sozinhos: será essa a primeira constatação para uma nova cora, seio maternal de uma nova idade? Da novidade? Do ponto em que melhor observamos o mundo apontamos a exposição "TESTUALE" que a Comuna de Milão organizou em 1979; WORDS & WORDS, que pela mesma altura lançou a Fundação De Appel, Amesterdão, Milão, Lisboa (Veneza)... testemunham uma universal positividade na inquietação, na crise.
No nosso projeto, esta instalação para a B80 de Veneza – no magnífico pavilhão Alvar Aalto – é apenas o começo de uma operação que continuará em Lisboa e noutros lugares sobre A PALAVRA E A LETRA que um novo tecido estruturará. Absolutamente outro.
Finalmente o espaço acolhedor: uma arquitetura amiga é já uma promessa cora(l), uma promessa de unanimidade. Esta instalação foi pensada exatamente para este lugar privilegiado: o Pavilhão Alvar Aalto, ainda um espaço.