Ernesto de Sousa, Antes Desse Ouro, Lisboa, Quadrum
1986
Esta exposição ("Antes Desse Ouro") é complementar e preambular da exposição que inaugura no próximo mês de Março na Galeria Quadrum ("Esse Ouro Dantes").
… Diremos, como Fernão Lopes, que tanto num caso como noutro, nos encontramos perante diferentes modos de revelação, preferencialmente no primeiro caso "os corporais da parte de fora", e, em certos casos, os "espirituais da parte da alma"...
Na exposição seguinte – Esse Ouro Dantes – encontrar-nos-emos sobretudo com alguns dos cinco modos das revelações em sonhos e fantasmas. Tratar-se-á neste caso de uma matéria implodida.
Aqui ["Antes Desse Ouro"], pelo contrário, tudo foi disposto para que a composição fosse mais ou menos premeditada, revelação corporal, portanto.
Hoje, já não nos interessa a beleza, no sentido em que a definiu uma estética do século passado, acabada e perfeita.
Hoje, só nos interessa algo cuja natureza pulsional, colectiva e sobretudo socialmente motivada seja tal que os resultados respectivos, pequeno ou grande formato, venham a ser pretéritos e mais-que-perfeitos: da escrita ao graffiti, do graffiti ao gestual de novo.
Pintura nesta circunstância, que por acaso dá quadros: a jeito de quem os preferir utilizar decorativamente.
Ao autor interessa sobretudo o processo e o resultado gráfico como registo de uma determinada actividade. Nas implosões que veremos na exposição "Esse Ouro Dantes" é diferente. Porque aí se tentará encontrar o resultado, depois fotografado, de um processo de destruição. Destruir, atacar, implodir... Do negro chegar ao ouro, ao lápis (a Obra revelada).
Materialismo. A pintura é coisa material, a matéria é coisa mental.
Ernesto de Sousa
Janas, do solstício de Inverno ao Carnaval-Primavera 1986.