Bibliografia

Encontro como Arte (Meeting as Art) ou Per formare

III Symposium International d'Art Performance, Lyon
Maio de 1981

                                                     (a) I will cry unto God that performeth all things for me
                                                     
(b) Je suis athée grâce à Dieu.


Estes dois textos são de minha autoria e ajudam a entender a minha definição de performance; foram inspirados em:

                                                     no autor do livro dos Salmos, cujo nome exato se perdeu...
                                                     não importa, além disso, ele ainda não tinha a chave dos sonhos...;
                                                     em Luis Buñuel.

Antes de vos dar a chave, devo avisar que performance não é uma palavra anglo-saxónica, mas de origem italiana; vem da expressão per formare – que significa basicamente: formar pela segunda vez.

Dito isto, quanto à erudição, dou-vos a chave, (ou então finjo):

                                                     O NÚMERO DOIS. Para entrar na "chave" é preciso fixar outra coisa:
                                                     NUMERO DEUS PARIT GAUDET.

 Significa, mais ou menos, que "o número dois dá prazer a Deus";  e é um tributo, por um lado, a Starobinski que foi o único a ler algo da face oculta (loucura) de Saussure (a erudição sempre); e depois por outro lado, porque é latim saturnal e  isso faz-nos pensar nas Saturnálias, festas das mais antigas, onde todos faziam performance. E ainda...

 ...o resto é muito longo para expor: o espaço que faz rir, o riso e a revolução, a mulher, a travessia, o rio Lethe, a relação 9/10 (ou 0/1), etc... Vou falar-vos disso, ou melhor, vou tentar performá-lo para vós. Enquanto isso, fixem, porque é apenas uma imagem:

                                                     NUMERO DEUS PARI GAUDET


P.S. As célebres cortesãs de Veneza (donne di Venetie, meretrici, concobine, cortigiane, puttana, publiche peccatrici, prostitute ai bordello, etc. etc.) seguiam uma orientação, tudo era muito bem regulado pelo poder: Quando expostas as pernas, deviam também mostrar o sexo e um seio. Para distingui-las dos homens que praticavam o travesti, e porque as relações homossexuais  eram condenadas à morte. Um dia (numa das minhas existências passadas) vi uma destas cortesãs exposta desse modo. Mas ela era soletta, não trazia benda; ria e fez-me pensar em algo já vivido.

Era uma cortesã, pura e ainda zitella...  não sei... dirigi-me a ela e pedi-lhe: – dá-me o teu seio a beber – o que fez, bebi, era o rio do Esquecimento (Lethe) e esqueci-me de todo o mal passado. Agora bastava realizar o futuro, a entrada no Paraíso.

Foi assim que comecei a fazer performance.