Helena Almeida, Paris, Galerie Bama
Abril de 1981
I
DONNE, CH’AVETE INTELLETO D’AMORE
com este grito ou poema
foi proclamada há séculos
uma VITA NUOVA
a modernidade
mas a Beatrice de Dante ou a Noiva
de Novalis eram ainda apenas um Nome uma Ideia
um tempo perdido
ganho em sonho para a emergência do novo
para a eternidade
Agora que percorremos o caminho dos Infernos Purgatórios
Paraísos
(qu’importa se reais ou artificiais?)
agora
subitamente orfãos
as ideias querem virar coisas
(“A Eternidade existe, sim, mas não tão devagar”, Almada Negreiros)
Já não nos basta olhar os lírios do campo
o império é penetrá‑los
e pouco a pouco
de espaço a espaço
instrumento a instrumento
tempo a tempo
ser
os próprios lírios
os campos
Ser o ser
E nesta secular descoberta da modernidade
vencida a morte uma VITA NUOVA
a mulher é o destino do homem
reencontrado
Desçamos à Noiva perfeita
mecânica
II
HELENA ALMEIDA
não é já o duro trabalhar a pintura do teu rosto
nem metáfora espacial
a Vanguarda
Apenas protagonista ela orienta escolhe ilumina
a inteligente mecânica do amor
o caminho e os mais finos gestos ideias coisas
da penetração
para
uma VITA NUOVA